A descoberta do mundo

A descoberta do mundo

Não ficção , 1984

Rocco

Páginas 548

Uma Clarice Lispector “um pouco sem jeito” apresentava-se a seus leitores, em setembro de 1967, cerca de vinte dias após estrear como colunista do Jornal do Brasil. Esclarecia seu desconforto em escrever por encomenda, algo que fizera, na imprensa, anonimamente. “Assinando, porém, fico automaticamente mais pessoal. E sinto-me um pouco como se estivesse vendendo minha alma.” Ao longo dos seis anos seguintes, a escritora aproveitou aquele espaço das formas mais variadas: ela discutiu acontecimentos recentes, filosofou sobre a existência, tratou de acontecimentos cotidianos, falou de sua família e de suas angústias, e até antecipou trechos de seus romances inéditos. Esse vasto material foi reunido na coletânea de crônicas A descoberta do mundo, em 1984, e ganha agora, 25 anos depois, uma nova edição, que marca o início do relançamento das obras completas de Clarice Lispector em novo projeto gráfico, numa justa homenagem da Rocco à autora de A hora da estrela, que acaba de completar dez anos na casa.

Os textos revelam elementos da escritora reflexiva que tanto se preocupou com a essência da alma humana. As crônicas também mostram como ela se preocupava com o leitor, recusava a fama de hermética e desejava uma troca profunda com ele. Em vários trechos do livro, ela responde às cartas dos leitores, desfaz mal-entendidos, explica o que porventura não tivesse ficado claro em textos anteriores e até pede desculpas por ter escrito algo que tenha dado margem a interpretações erradas. Ao ganhar um prêmio por seu livro infantil O mistério do coelho pensante, ela se admira que consiga ser compreendida por crianças, mas que seja considerada “difícil” quando escreve para adultos.